Na última quinta-feira, 24/6, aconteceu o segundo dia de São Paulo Fashion Week (SPFW) N51 com mais nove apresentações incríveis.
Confira a seguir todos os desfiles do segundo dia de SPFW N51:
Igor Dadona
Em sua estreia, Igor Dadona abriu o segundo dia de SPFW N51 com uma coleção de moda masculina intitulada Maritime.
O isolamento causado pelo lockdown influenciou a coleção, que fala sobre solidão, saúde mental e autoconhecimento. O fashion film super lúdico (lembrei até de Alice no País das Maravilhas!) em preto e branco, com um cenário em papelão, trata de uma jornada que vai da xícara ao barco até o momento da chegada à terra firme, simbolizando, enfim, a estabilidade.
“É uma coleção super pessoal. Estou confinado desde o ano passado, saí de casa duas vezes: para gravar o filme e trazer as fotos do lookbook”, declarou Dadona.
Foram usados materiais como lã, rendas, zibelina estampada (apaixonada pela estampa florida) e bordados lindos de pedraria junto com alfaiataria masculina.
O cenário de papelão foi feito à mão pelo artista Edgard de Camargo.
Foi uma pena que, pelo vídeo, não era possível ver tão nitidamente as peças nem as suas cores. A impressão foi a de que os looks eram todos em preto, branco e cinza, o que não era verdade.
Confira a seleção de looks:
Ronaldo Silvestre
O estreante na SPFW, Ronaldo Silvestre, mostrou a coleção Conspiração que traz a máquina de costura como arma para lutar pela transformação social.
Ele se inspirou em lírios, Revolta dos Alfaiates e tropeiros. Havia a desconstrução de uniformes urbanos como macacões e peças utilitárias.
O estilista dedicou essa coleção à sua mãe, dona Eurídice, que desmanchava uniformes da companhia de mineração, em Itabira. “Quando ela comprou a máquina de costura, fiquei fascinado, porque era o instrumento que ela tinha para levar comida para casa, vestir agente, nos tirar dos caminhos ruins. Por isso, nesta coleção, falo da máquina de costura como uma arma de transformação social”, disse Silvestre. Em alguns momentos do fashion film é possível ouvir sons da máquina de costura.
As costureiras do Instituto ITI (Igualdade, Transformação e Inovação Social), que o estilista fundou em 2003, qualificando mulheres e pessoas em vulnerabilidade social no ofício de costura e de bordado, ajudaram-no na coleção.
“A ideia é garantir que pessoas de pouca escolaridade tenham a chance de mudar o seu futuro e o de sua família, da mesma maneira como minha mãe fez”, declarou.
Foram usados tecidos de redesign, reciclados e algodão com tingimentos naturais.
A cartela de cores trouxe verde, tons de barro, azul profundo e vermelho.
As formas são atemporais, amplas e orgânicas. Era muito bonito ver o movimento e o caimento das peças.
As papetes usadas pelos modelos foram feitos pela Rider.
Confira a seleção de looks:
AZ Marias
AZ Marias foram o primeiro desfile do Projeto Sankofa no segundo dia de SPFW N51. A marca se inspirou na rainha e guerreira angolana Nzinga da Matamba, símbolo da resistência ao colonialismo português.
“Quis celebrar uma mulher que foi uma rainha-guerreira, porque quero transformar as mulheres que vestem nossas roupas em rainhas-guerreiras”, declarou Cíntia Maria Félix, criadora da marca.
Apadrinhada por Isaac Silva, AZ Marias trouxe uma mistura de cores e texturas com muitas referências ao continente africano, como uma jaqueta com bandeiras e o rosto de Nzinga.
Confira a seleção de looks:
Naya Violeta
A segunda estreante pelo Projeto Sankofa no segundo dia de SPFW N51, Naya Violeta, criou a coleção Foguete inspirada no fogo.
“Em Foguete a gente fala do poder de transformação que é o lugar do fogo. O fogo que aquece, que transforma. Há o clarão que o foguete traz, o clarão que é olhar para o fogo, o clarão de estar vivo. Nesse momento histórico e social de extrema dificuldade que estamos vivendo, essa coleção tenta nos ajudar a entender a potência de corpos negros resistirem e de olhar para estes corpos vivos”, disse a estilista, amadrinhada pela Apartamento 03.
Ela se inspirou no livro de Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino Fogo no Mato: A Ciência Encantada das Macumbas. “A obra fala sobre ritmos, de ter ginga e saber a hora de se abaixar para mirar o golpe depois”.
Veio muito marrom e vermelho, cores de Xangô, além de acessórios em dourado, representando a chama ardente.
Havia volumes, camisas amplas de modelagem oversize, babados e bordados em linho.
A estamparia exclusiva foi criada em parceria com Dani Guirra.
Confira a seleção de looks:
Isabela Capeto
A coleção PANCS, plantas alimentícias não convencionais, de Isabela Capeto fala de um olhar diferente para o que está ao nosso redor.
“Elas são um novo olhar sob coisas que estavam próximas da gente, mas de uma maneira que nunca havíamos visto”, disse sobre o Fashion film. “No meu ateliê, é o nome de uma coleção que é sobre usar o que é nosso e ir fundo em nossas raízes”, completou.
Havia muito trabalho artesanal, bordados com contas e paetês, estampa floral e de frutas como uvas, mamões, abacates e bananas.
Vestidos e macacões de algodão, jeans, camisas, saias midi rodadas, crochê, lenços na cabeça no estilo anos 1950, rendas, além das belas pinturas de flores grandes sobre tecidos.
“Essa coleção é uma renovação do meu trabalho. Continuam tendo os meus bordados, miçangas, aplicações, rendas, mas de uma nova maneira”, comentou.
Adorei o fato de que o fashion film mostrava os detalhes das peças, o que tornava tudo mais especial.
Confira a seleção de looks:
Martins
Tom Martins se inspirou na estética kinderwhore, no estilo punk-rock, bem como no filme Laranja Mecânica e na série Euphoria.
O kinderwhore, que mistura feminilidade adulta com infantilidade, apareceu no início dos anos 1990 nos EUA. O estilo com as saias com pregas, que remetem aos uniformes escolares com uma atitude punk, vestidos com detalhes românticos, sapatos de boneca com plataformas, meia arrastão com meia soquete, muita maquiagem e unhas compridas.
Do filme Laranja Mecânica vieram algumas estampas como a de olhos.
As obras do pintor Henri Matisse foram transformadas na paleta de cores.
Os tecidos são fluidos com um pouco de transparência, além dos já clássicos da marca como jeans, tie-dye diferentão, flanelas, xadrez, que, aliás, vieram com uma padronagem linda, que logo me remeteu ao universo do grunge.
“No confinamento, fiquei muito próximo do meu bicho. Pedi para pessoas que eu conhecia que também têm gatos para me mandar fotos para criarmos uma estampa”, declarou Tom sobre uma jaqueta da coleção.
Foi bonito ver a diversidade de corpos, de idades e sem distinção do que é feminino e masculino.
Confira a seleção de looks:
Modem
André Boffano explorou os arquivos e a essência da Modem para criar sua mais recente coleção de Verão 2022.
“Para mim, foi um grande desafio estar criando nesse momento e foi necessário ir em cima do histórico da marca. Poder criar já é um ato revolucionário, ainda mais no Brasil, um país onde a criação e a cultura são cada vez menos valorizados. Somos, de uma certa forma, sobreviventes”, declarou Boffano.
A cartela de cores era como um arco-íris, muito diferente das coleções anteriores mais minimalistas. “Depois dessa tempestade que estamos vivendo com esse governo genocida, a gente merece um arco-íris no final disso tudo”, desabafou.
A arquitetura estava nos sapatos e em detalhes das peças como barras assimétricas e mangas.
Tecidos leves foram combinados com mais estruturados e tricô.
Sua sexta apresentação na SPFW foi a primeira em que o estilista trouxe modelos masculinos e que trouxe uma moda mais diversa. “No filme, eles estão quase trocando de look com as mulheres. Já estamos tão presos com as limitações com matéria-prima, confecção, então não quis me limitar a um gênero.”
Essa foi uma das coleções que mais me chamou a atenção por sua paleta de cores e design clean.
Confira a seleção de looks:
Triya
Apresentada no segundo dia de SPFW N51, a coleção de Verão 2022 da Triya, intitulada Amar é para os fortes, foi inspirada na vida e obra de Frida Kahlo.
Estampas e símbolos próprios da artista estavam presentes nos 18 looks apresentados em colaboração com o governo mexicano, detentor dos direitos sobre a imagem e obra da mexicana.
“Sempre fui muito apaixonada pelo trabalho dela, ela sempre foi uma inspiração para mim. Mas, dessa forma, em que as estampas são de uma colab oficial, nunca pensei. É um sonho esse trabalho”, declarou Isabela Frugiuele, diretora criativa da Triya.
Havia maiôs, biquinis com calcinhas mais altas, kaftans e vestidos com assimetrias, babados com flores, corações sagrados e onças.
A cartela de cores era viva e neon com laranja, vermelho, azul, roxo e rosa.
“A gente quis transportar muito para o sonho. Ela mistura muito a obra com a vida como uma forma de escapar. A gente tentou trazer esse lado para a coleção, porque também queremos escapar”, disse Isabela.
Adorei as cores e as flores, mas não precisava ter a imagem da Frida, que já está muito saturada… já a vimos em vários outros produtos por aí. Poderia ter vindo de forma menos óbvia.
Confira a seleção de looks:
Another Place
A coleção Unlock da Another Place, que encerrou o segundo dia de SPFW N51, foi patrocinada pela cervejaria alemã Beck’s.
O tom de verde fluorescente da marca de cerveja alemã tomou conta das peças, junto com o preto e combinou com a estética da Another Place que é bem urbana e esportiva.
No fashion film, modelos aparecem ora desfilando ora dançando numa sala espelhada. Eram roupas perfeitas para performar quando a pandemia acabar.
Havia casacos de vinil e couro, segunda pele estampada, vestidos de tela, além da logo ANP em cintos, barras e moletons. Tudo isso sem distinção de gênero e com muitos toques fetichistas.
Confira a seleção de looks:
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